domingo, 29 de abril de 2012

Mar Mediterrâneo : Geofrey Baliney : Aspectos Históricos


   
Geografia Newton Almeida

              "  Maravilhoso Mar 

    Nenhum outro pedaço de água salgada exerceu uma influência tão  ampla sobre o nascimento do mundo atual quanto  o Mar Mediterrâneo. Não fosse esse mar, com suas qualidades peculiares e sua localização extraordinária, a vida política, econômica, social e cultural do mundo teria tomado outro rumo.
   Numa época em que o mar - contanto que estivesse calmo - representava um recurso menos  dispendioso e mais rápido do que a terra para o  transporte de carga e de passageiros, o Mediterrâneo apresentava vantagens. A oeste, aproximava-se do Oceano Atlântico; a leste, aproximava-se do proeminente Mar Vermelho e do Golfo Pérsico (que podem ser considerados duas enseadas do Oceano Índico); além disso, tinha um longo braço - o Mar Negro - que avançava para o interior da Ásia. Dois braços mais curtos, ladeando a Península Itálica, chegavam quase até o sopé  das montanhas cobertas de neve dos Alpes europeus. 
   O mar unia África, Europa e Ásia. Como uma verdadeira autoestrada marítima, ligava regiões diversas, cada uma com seus produtos - cobre, estanho, ouro, prata, chumbo, vinho, azeite de oliva, grãos, madeira, gado, corantes, roupas, armas, especiarias, obsidianas e outros luxos -, sendo também um ótimo condutor de ideias e de crenças religiosas. Se a Ásia e a África tivessem um mar tão grande quanto o Mediterrâneo no centro de seus territórios, a história desses continentes teria sido muito diferente. Em essência, o Mediterrâneo era um lago estratégico, com a vantagem de que, no Estreito de Gibraltar, uma  garganta apertada abria-se para o imenso oceano. 
   Quase todo cercado por terra, esse mar podia permanecer surpreendentemente calmo por longos períodos. Em alguns dias, parecia um espelho e no verão ficava praticamente livre de tempestades. Lá, os grandes barcos a remo, conhecidos como galeras, adaptavam-se muito bem, em parte pela ausência de vento em certas épocas do ano. Em tempos de calmaria, os remos eram a única força motriz e possibilitavam às galeras entrarem em portos estreitos onde o vento contrário tornaria arriscadíssima a aproximação de qualquer veleiro. 
   Durante as tempestades,  ondas com a crista branca de espuma quebravam nas praias pedregosas. Uma galera podia ir a pique em questão de minutos. Frotas inteiras podiam desaparecer, ceifando muitas vidas. Em 480 a.C., quando os persas atacaram Atenas, o resultado da guerra foi parcialmente determinado por uma ventania que jogou os navios invasores contra a costa rochosa da Grécia. Século após  século, vidas de figuras bastante conhecidas acabaram influenciadas por essas tempestades ocasionais. 
Geografia Newton Almeida
    O Mediterrâneo  não apresentava grandes variações de maré : o nível de suas águas mudava pouco no espaço de 24 horas. Assim, os navios podiam atracar no cais e nas docas e ser descarregados com relativa facilidade. Só em alguns portos mais rasos é que as embarcações precisavam esperar a maré alta para entrar ou sair. A cidade de Veneza, com canais em vez de ruas, só pôde surgir porque a variação das marés era mínima. 
    Um mar quase sempre calmo, com golfos profundos, possibilitava a potências militares comandar  uma grande área. Cada um a seu tempo, fenícios, gregos, cartagineses e romanos aproveitaram essa vantagem. Ali foi vista pela primeira vez uma singular invenção: o  veleiro. O registro mais antigo de uma embarcação a vela é uma  decoração  feita num vaso egípcio, por volta de 3100 a.C. A vela quadrada assemelhava-se a um grande quadro-negro sobre um cavalete e, sem dúvida, foi empregada em uma embarcação que percorreu o movimentado Rio Nilo. Couro ou pele  de animais podem ter sido usados para confeccionar as primeiras velas, mas já em 2000 a.C. esses materiais eram substituídos pelas fortes fibras de linho. Até o  surgimento do barco a vapor, a garantia de suprimento dessas fibras representou um componente do poderio naval. 
   O içamento de velas em mastros e um uso melhor das cordas caminharam lado a lado com o conhecimento cada vez maior dos ventos. Na época do poeta Homero, os gregos já sabiam muito sobre eles: ventos e estrelas eram praticamente a única bússola disponível para quem estivesse no mar. Assim, os marinheiros em alto-mar, nas noites escuras, usavam as rajadas uivantes, frias e úmidas como um dos recursos para determinar sua posição. Conhecido como zéfiro, a origem desse vento geralmente indicava o oeste. 
    As galeras eram dotadas de velas. Quando o vento soprava de um quadrante favorável, içava-se uma vela  quadrada; se era brando, porém, a tripulação usava os remos. Com o tempo, as pequenas galeras deram lugar a outras maiores, especialmente adequadas para combates no mar. Os remadores ficavam posicionados em dois tombadilhos, e não em um só. Mais tarde, a trirreme surgiu, com três tombadilhos, chegando a comportar cerca de 170 remadores. Os que ficavam no tombadilho superior manejavam remos muito longos, para que as pás pudessem alcançar a água, bem mais abaixo. 
   A combinação de velas e remos permitiu que os navios atingissem uma velocidade que esses recursos, separadamente, não teriam conseguido. Assim, um leve vento de popa permitia que a galera, quando equipada com todos os remadores, aumentasse sua velocidade de 4 para 6 nós. Às vezes, sob vento forte, a embarcação chegava a 10 nós, tornando desnecessários os remos.  Nesse caso, se as velas fossem içadas em dois mastros, o navio podia inclinar-se tanto  que ficava impossível remar. 
   Em Atenas, as galeras em geral empregavam sobretudo a força de homens livres, mas as que transportavam carga usavam mais o braço escravo. Em qualquer dia calmo, dezenas de milhares de escravos devem ter ocupado os bancos  de remadores em navios que pertenciam às cidades e colônias gregas. Os cativos tinham os tornozelos presos por grilhões que os impediam de afastar-se dos remos. Se a embarcação afundasse de repente durante uma batalha ou tempestade, eles dificilmente escapariam. 
   A região mediterrânea


Fonte : BLAINEY, Geofrey . Uma Breve História do Mundo.  Editora Fundamento  Educacional. São Paulo : 2011 . 



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