As fronteiras não são eternas ... O Brasil, por exemplo, nem sempre foi do tamanho que é hoje, e o atual estado do Acre nem sempre pertenceu ao território brasileiro. Saiba a história do estado, segundo as informações do governo do Acre :
" Terras incontestavelmente bolivianas". Assim se expressavam as autoridades brasileiras sobre as terras ao sul da linha oblíqua imaginária, que desde o Tratado de Ayacucho (1867), marcava a fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Enquanto não houve ocupação efetiva da terra estava tudo bem, mas tão logo o mercado internacional demandou maior produção de borracha e a região foi povoada, a questão das fronteiras se tornou um grave conflito entre as nacionalidades.
A partir de 1880 grandes levas de imigrantes nordestinos penetraram livremente naqueles territórios sem dono e sem lei.
Ao surgirem as primeiras proclamações bolivianas de posse do Acre, em 1895, os brasileiros já estavam ali situados há pelo menos quinze anos. Mal se iniciava o ano de 1899 quando o governo da Bolívia tentou uma cartada decisiva: ocupar militarmente o rio Acre enquanto negociava um contrato de arrendamento com capitalistas europeus e norte-americanos interessados na exploração da borracha da região. Entretanto, a ocupação do Acre não seria tão fácil.
Logo, alguns brasileiros revoltados com as duras medidas alfandegárias (impostos para importação e exportação) dos bolivianos decidiram contestar a administração estrangeira daquele território povoado por brasileiros. Assim, sem nenhum aviso, já em maio de 1899, ocorria a Primeira Insurreição Acriana, quando os bolivianos foram pela primeira vez expulsos de Puerto Alonso, o povoado que eles mesmos haviam fundado nas margens do rio Acre.
Enquanto isso tudo se dava, Luiz Galvez - espanhol de nascimento, mas cidadão do mundo por vocação - partia de Manaus para o Acre. Galvez levava o apoio velado do governo amazonense, já que o governo brasileiro exigia o fim dos conflitos no Acre e a devolução do território aos bolivianos. Foi durante o encontro dos seringalistas do Acre com Galvez que surgiu uma solução para o impasse em que se encontravam os revoltosos.
Com as palavras de ordem : " Já que nossa pátria não nos quer; criamos outra ", Galvez e os brasileiros da região proclamaram criado o "Estado Independente do Acre". Foram oito meses de governo do presidente Galvez.
Em março de 1900, chegavam ao Acre três navios da Marinha brasileira para prender Galvez e devolver aquelas terras à Bolívia.
Entretanto, mesmo com o apoio do governo brasileiro, as autoridades bolivianas não conseguiram pacificar a região. Os "revolucionários" brasileiros se mantiveram mobilizados e em constante atitude de confronto.
Até que, nos primeiros meses de 1902, a notícia da constituição do Bolivian Syndicate desabou sobre a opinião pública nacional. Essa companhia comercial de capital anglo-americano estava arrendando o Acre pelo prazo de vinte anos com amplos poderes territoriais, militares e alfandegários. Seu contrato com a Bolívia implicava também a livre navegação internacional dos rios amazônicos e feria frontalmente a soberania brasileira sobre a Amazônia.
Enquanto o governo federal era sacudido de sua letargia pelo clamor nacional, os brasileiros do Acre mantinham a resistência armada contra os bolivianos. A notícia do Bolivian Syndicate precipitou os acontecimentos, que se configuraram como uma verdadeira guerra.
De um lado, o exército regular da Bolívia entrincheirado em alguns pontos estratégicos do rio Acre. De outro, um exército de seringalistas e seringueiros organizados pelo ex-militar Plácido de Castro. Uma guerra que foi conflagrada no Xapuri, em agosto de 1902, e só foi concluída seis meses depois em Puerto Alonso com um saldo de quinhentos mortos em uma população de dez mil indivíduos.
Os brasileiros do Acre mais uma vez haviam expulsado os bolivianos e proclamado o Estado independente do Acre como forma de obrigar o governo federal a considerar a região como litigiosa. Tamanha foi a pressão nacional que Rodrigues Alves, recém instalado no cargo de presidente, teve que reverter a posição oficial brasileira estabelecendo negociações que culminaram com a assinatura do Tratado de Petrópolis e anexaram o Acre ao Brasil em novembro de 1903.
Finalmente, depois de quatro anos de resistência armada, o Acre passou a fazer parte do Brasil e os brasileiros do Acre conquistaram o direito de se autodenominar acrianos. Isso aconteceu há apenas um século. "
Fonte : VESENTINI, J. Wiliam ; VLACH, Vânia. Geografia Crítica , Geografia do Mundo Desenvolvido . Editora Ática . 4ª edição . São Paulo : 2010 (www.ac.gov.br ; acesso em 22 de março de 2007).
GEOGRAFIA Newton Almeida
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